Rio de Janeiro sedia nova etapa da Caravana África Diversa

A capital fluminense recebe, entre sábado (22) e quinta-feira (27), uma programação que reúne artistas, pesquisadores e representantes de tradições culturais do Brasil e da França. O conjunto de atividades integra a Caravana África Diversa e tem como eixo central o diálogo entre artes cênicas, expressões afro-diaspóricas e saberes ancestrais.

A iniciativa chega ao Rio no contexto das celebrações pelos 200 anos de relações diplomáticas entre Brasil e França e marca, também, duas décadas da primeira temporada brasileira realizada no país europeu. Em 2025, a Caravana ocupará diferentes espaços culturais da cidade, como o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do Iphan, os teatros Cacilda Becker e Dulcina, a BiblioMaison e o Museu de Arte do Rio.

Antes de desembarcar no Brasil, o evento passou por Nantes, na França, com ações realizadas na La Compagnie du Café-Théâtre e na Maison de l’Afrique. Para a idealizadora e curadora Daniele Ramalho, a Caravana busca circular por ambientes diversos, valorizando tanto instituições culturais quanto espaços comunitários. Segundo ela, esse percurso ajuda a revelar as camadas históricas e simbólicas presentes no território.

Heranças e diálogos

A programação destaca a ancestralidade africana que se manifesta no Rio e sua importância na formação da sociedade. Daniele explica que experiências realizadas em diferentes contextos, como oficinas em quilombos, aprofundam a percepção sobre os vínculos entre práticas tradicionais e cotidiano. O curador convidado desta edição é o ator, diretor e griô Hassane Kouyaté, de Burkina Faso.

Entre os participantes está a guardiã do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, Capitã Pedrina, referência no universo dos reinados afro-brasileiros e reconhecida por sua trajetória em ações culturais no Brasil e no exterior. Ela considera iniciativas como a Caravana essenciais para ampliar a compreensão sobre valores de comunidades tradicionais e fortalecer identidades. Para a mestra, compreender as raízes é parte fundamental do processo de formação individual e coletiva.

Outra liderança destacada pela curadoria, Ana Luzia de Moraes, Rainha Konga do grupo de congado Massambique de Nossa Senhora das Mercês, esteve presente na etapa francesa da Caravana, mas não poderá participar desta edição no Rio. Neste ano, ela obteve o registro oficial dos Saberes do Rosário como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, conquista alcançada após quase duas décadas de mobilização.

Performances e encontros culturais

O artista e pesquisador Benjamin Abras apresenta três ações classificadas por ele como “oferendas”: o solo performático Masimba, uma oficina e uma intervenção de afro butô no Museu de Arte do Rio. A linguagem, experimental e de forte carga simbólica, é estudada por Abras em suas pesquisas sobre performance contemporânea e matrizes afro-diaspóricas.

Ele destaca que a diversidade das tradições afro-brasileiras forma um conjunto vasto de narrativas e conhecimentos que ainda carecem de encontros mais frequentes. Para o artista, a Caravana África Diversa favorece a aproximação entre diferentes mestras, mestres, griôs e artistas da diáspora africana, fortalecendo vínculos e estimulando a troca de experiências.

Abras afirma que esse intercâmbio reafirma a dimensão expansiva da diáspora e contribui para a construção de um entendimento coletivo sobre identidade e pertencimento. Segundo ele, a Caravana funciona como um ponto de encontro entre comunidades de tradição e produções contemporâneas.

Origem e trajetória da Caravana

A curadora Daniele Ramalho atua com esculturas populares, cultura indígena e referências afro-brasileiras desde o início dos anos 2000. Sua aproximação com mestres tradicionais e, especialmente, com o griô Sotigui Kouyaté, de Burkina Faso, marcou o início de sua pesquisa sobre oralidade, memória e espiritualidade. A partir dessas experiências, Daniele idealizou o Festival África Diversa, que mais tarde evoluiu para o formato atual da Caravana.

A edição de 2025 conta com apoio do Ministério da Cultura e da Petrobras e integra o calendário oficial do Ano do Brasil na França e do Ano da França no Brasil. Todas as atividades serão reunidas em uma publicação especial, distribuída ao final da programação, com patrocínio da Petrobras por meio da Lei de Incentivo à Cultura.

Imagem: Daniel Protzner

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