Resiliência e Sustentabilidade: A Casa de Vidro que Renasceu do Lixo
Em Ibiraquera, Santa Catarina, uma obra singular desafia convenções arquitetônicas e ecológicas. Sonia Regina Faust e sua filha Ana Paula transformaram 35 mil garrafas de vidro descartadas no litoral catarinense nos alicerces de seu lar. A construção, iniciada em 2017 após um divórcio doloroso, tornou-se símbolo de reinvenção pessoal e consciência ambiental.
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7/23/20251 min read


A técnica escolhida foi a taipa de mão — método ancestral que combina terra crua, areia e fibras naturais —, onde as garrafas foram encaixadas como elementos estruturais e estéticos. "Cada garrafa recolhida na praia ou no rio representava um passo para reconstruir nossas vidas", revela Sonia. O processo demandou cinco anos de trabalho, incluindo mutirões comunitários que reuniam até 15 voluntários.
Para Marcos Boldt, bioconstrutor que assessorou o projeto, a iniciativa evitou que sete toneladas de vidro contaminassem ecossistemas costeiros. "As garrafas oferecem eficiência térmica: acumulam calor diurno e liberam-no à noite, reduzindo em 80% o uso de concreto", explica. A casa de 50 m² também integra captação de água pluvial e iluminação natural através dos vidros coloridos, que projetam padrões cromáticos no interior.
A jornada enfrentou obstáculos. Vizinhos inicialmente associaram a construção à precariedade, enquanto a dupla precisou dominar técnicas de bioconstrução através de cursos. Hoje, a "Casa de Vidro" tornou-se atração turística e centro de oficinas sustentáveis. Ana Paula, agora estudante de Arquitetura, sintetiza: "Esta casa prova que o desperdício é uma falha de design. O que a sociedade descarta pode renascer como beleza e funcionalidade".
A propriedade abre para visitas guiadas em 2023, servindo de modelo para iniciativas de economia circular. No entardecer, quando a luz atravessa as garrafas âmbar e azuis, Sonia reflete: "O lixo do rio devolveu nossa dignidade. E nos ensinou que recomeços podem ser luminosos".
Imagem: @casadesal