O Censo do Inep sobre o ensino superior no Brasil e a encruzilhada histórica da juventude diante dos desafios da educação brasileira
Os números divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), na segunda-feira (22), sobre o Censo 2024 da Educação Superior, escancaram as desigualdades persistentes no sistema educacional do país e reforçam a necessidade de repensar os rumos do ensino superior brasileiro.
Com mais de 10 milhões de matrículas, as instituições de ensino superior continuam refletindo a urgência de uma reforma universitária ampla. As informações apresentadas pelo Inep revelam que o caráter excludente do sistema se mantém, marcado pela predominância de vagas na rede privada, pelo desafio de consolidar políticas de inclusão e permanência — sobretudo em cursos de formação continuada — e pelo distanciamento entre universidades e um projeto nacional de desenvolvimento.
Não se pode negar que a ampliação do ensino público superior e as políticas de acesso e permanência implementadas em governos democráticos e progressistas modificaram de maneira qualitativa o perfil das universidades brasileiras — especialmente as públicas —, ampliando a democratização e garantindo o ingresso crescente de jovens da classe trabalhadora.
Contudo, a ruptura desse processo, intensificada após o impeachment da presidente Dilma Rousseff, acelerou a adoção de uma agenda de retrocessos — expressa na mercantilização do ensino superior, no enfraquecimento das instituições públicas e no desmonte das políticas de apoio estudantil —, cenário refletido nos resultados do novo levantamento. Superar os entraves do ensino superior precisa voltar a ser prioridade para o desenvolvimento do Brasil.
Os dados do Censo 2024 reforçam a centralidade de um debate crítico. Um dos pontos mais contundentes é a predominância da rede privada, que concentra 80% das matrículas e sofre influência direta do mercado financeiro, que opera sob a lógica da financeirização da educação. Essa realidade intensifica outro problema: a entrada maciça de capital estrangeiro no setor. Discutir o caráter nacional do ensino — com currículos voltados à realidade brasileira — torna-se, assim, elemento essencial para enfrentar os desafios do setor.
Outro destaque é o avanço do ensino a distância. Pela primeira vez, as matrículas no formato EAD superaram as presenciais, alcançando 50,75% do total. Embora o marco regulatório do EAD tenha estabelecido mecanismos para conter a expansão desordenada, sobretudo em instituições presenciais, o levantamento indica que a modalidade tornou-se a principal porta de entrada no ensino superior — mas com taxas de permanência baixas. Além dos efeitos concretos dessa expansão, chamam atenção os impactos sobre a sociabilidade e a humanização do processo de ensino-aprendizagem, já que a vivência universitária é parte essencial da formação estudantil.
As desigualdades sociais também se manifestam nos resultados. Apenas 21,5% dos jovens de 18 a 24 anos acessam o ensino superior, mesmo com programas como Fies, Prouni e Lei de Cotas. A evasão, por sua vez, aumentou de 11% para 17% entre o último levantamento e o atual. Entre as causas estão a ausência de políticas consistentes de assistência e permanência, a desconexão curricular com a realidade dos estudantes, as opressões vividas dentro e fora das instituições e, sobretudo, a precarização do trabalho e da vida da classe trabalhadora, que força milhares de jovens a abandonarem seus cursos.
Diante desse quadro, é urgente formular um projeto de educação que enfrente as barreiras do ensino superior, alinhado às necessidades reais da população e inserido no centro de um plano de desenvolvimento nacional. Isso passa, necessariamente, pelo fortalecimento e ampliação da rede pública de ensino, pela defesa do orçamento da educação e pela consolidação de políticas de assistência estudantil.
As contradições do ensino superior refletem as desigualdades estruturais do país e atingem, em especial, a juventude. O Brasil vive uma encruzilhada histórica: o futuro das novas gerações está em disputa. Ser jovem significa ter acesso a direitos, e a educação é um deles. Por isso, é fundamental defender um projeto popular para a educação, com protagonismo da juventude na transformação social.


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