Lula cobra mais compromisso global com o clima e alerta para risco de colapso ambiental
Durante o encerramento da Cúpula do Clima, realizada em Belém nesta sexta-feira (7), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo aos líderes internacionais para que reforcem o compromisso com o Acordo de Paris, firmado há dez anos. Em seu discurso, o presidente criticou a lentidão das ações voltadas à redução das emissões de gases de efeito estufa e destacou que o planeta ainda está distante de atingir as metas pactuadas.
“O Acordo de Paris parte do princípio de que cada país fará o melhor que puder para conter o aquecimento em 1,5º C. A pergunta que devemos fazer é: estamos realmente fazendo o melhor possível? A resposta ainda é não”, afirmou Lula.
O presidente alertou que regiões da América Latina, da Ásia e da África estão entre as mais vulneráveis aos efeitos da crise climática, com o risco de tornarem-se inabitáveis nas próximas décadas. Ele também mencionou o possível desaparecimento de ilhas do Caribe e do Pacífico em razão do aumento do nível do mar. “Ignorar esse problema é condenar novamente aqueles que já vivem em situação de vulnerabilidade”, declarou.
Reforço das metas e ação conjunta
Lula defendeu a necessidade de atualizar e ampliar as metas nacionais estabelecidas no Acordo de Paris, conhecidas como Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Segundo ele, embora cem países, responsáveis por cerca de 73% das emissões globais, tenham apresentado novas metas, o planeta ainda caminha para um aumento médio de temperatura de aproximadamente 2,5º C.
“No que depender do Brasil, Belém será o símbolo da renovação do compromisso com o Acordo de Paris”, disse o presidente, ao pedir que os países passem da retórica para ações efetivas.
Papel dos povos tradicionais e financiamento climático
Lula destacou que o Brasil vai propor o reconhecimento, durante a COP na Amazônia, do papel essencial dos povos indígenas e das comunidades tradicionais na mitigação das mudanças climáticas. Ele também defendeu novas formas de financiamento para garantir os recursos necessários às ações de adaptação e mitigação.
O presidente citou o chamado Mapa do Caminho Baku-Belém, que propõe mecanismos para alcançar a meta de US$ 1,3 trilhão anuais destinados ao combate às mudanças climáticas. Segundo ele, a maior parte do financiamento climático ainda chega aos países em desenvolvimento na forma de empréstimos, o que considera injusto. “Não é ético exigir que as nações mais pobres paguem juros para enfrentar uma crise que não criaram. Isso inverte o sentido do financiamento e faz o dinheiro fluir do Sul para o Norte”, afirmou.
Lula também defendeu a troca de dívidas por ações climáticas e ressaltou que os investimentos ambientais devem ser vistos como oportunidades de desenvolvimento sustentável, e não como gastos.
Tributação dos super-ricos e novas fontes de receita
Ao abordar a concentração de riqueza, o presidente defendeu a criação de impostos sobre grandes fortunas e corporações multinacionais para financiar políticas de combate ao aquecimento global. Ele citou dados da organização Oxfam, segundo os quais o 0,1% mais rico do planeta emite, em um dia, mais carbono do que metade da população mundial em um ano. “É justo exigir dessas pessoas uma contribuição maior. A taxação dos super-ricos pode gerar recursos valiosos para a ação climática”, afirmou.
Lula também mencionou o potencial dos mercados de carbono como fontes adicionais de receita, desde que os países cheguem a consensos sobre critérios e parâmetros comuns.
Chamado ao multilateralismo
Encerrando sua fala, o presidente reforçou a importância da cooperação internacional e propôs a criação de um Conselho do Clima no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU). “Não há solução fora do multilateralismo. A Terra é uma só, e a resposta precisa ser construída por todos, em conjunto. É possível transformar a crise em uma nova era de prosperidade e igualdade”, concluiu.
A Cúpula do Clima reuniu chefes de Estado, representantes de governos e diplomatas de mais de 70 países, preparando o terreno para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que ocorrerá de 10 a 21 de novembro, também em Belém. O encontro tem como objetivo atualizar e fortalecer os compromissos globais diante da crescente urgência da crise climática.


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