Demarcação de terras e participação política impulsionam mobilizações na COP30
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada em Belém, teve um dia marcado por protestos de povos indígenas na Zona Azul, nesta sexta-feira (21). As manifestações abordaram temas como demarcação de terras, a situação do povo guarani kaiowá e críticas à atuação de mineradoras do Canadá em territórios indígenas nas Américas, incluindo o Brasil.
O ato ocorreu no momento em que as negociações oficiais eram retomadas, após o incêndio que atingiu parte dos pavilhões nacionais na quinta-feira. Com cantos e cartazes, os indígenas circularam pelo corredor central da conferência, chamando a atenção de delegações e observadores, enquanto pediam a saída de empresas canadenses de áreas tradicionais e a revogação do Decreto nº 12.600/2025, que autoriza a privatização de empreendimentos hidroviários nos rios Madeira, Tocantins e Tapajós.
A mobilização foi realizada após a Plenária dos Povos, organizada pela Climate Action Network – International, rede que reúne mais de mil organizações atuantes no enfrentamento da crise climática.
Diversidade de atos na COP30
A conferência recebeu uma série de manifestações ao longo de sua programação. Os organizadores estimam a presença de cerca de 50 mil participantes, entre representantes de comunidades tradicionais, agricultores, indígenas, quilombolas e ribeirinhos, que reivindicaram mais espaço nos processos decisórios.
No dia 12 de novembro, segundo dia da conferência, um grupo munduruku entrou na Zona Azul pedindo o fim da privatização de empreendimentos no Rio Tapajós, mas foi retirado pela segurança. O povo também criticou os impactos previstos da Ferrogrão sobre seus territórios e modos de vida. Dias depois, lideranças foram recebidas pelo presidente da COP30, André Corrêa do Lago. O governo federal, por sua vez, anunciou a realização de consulta prévia sobre o projeto de hidrovia no Tapajós.
Paralelamente à conferência, Belém sediou a Cúpula dos Povos, que reuniu cerca de 20 mil pessoas e mais de 1,3 mil organizações para discutir demandas e apresentar propostas. Na abertura, uma barqueata levou centenas de embarcações à Baía do Guajará em defesa de justiça climática e social. O evento também realizou o “Funeral dos Combustíveis Fósseis”, no campus da Universidade Federal do Pará, para denunciar os impactos ambientais do petróleo, gás natural e carvão. A Boiuna, figura da mitologia amazônica, foi escolhida como símbolo, representando a abertura de caminhos para as lutas socioambientais.
A Marcha Mundial pelo Clima, realizada no sábado (15), foi a maior mobilização registrada, reunindo cerca de 70 mil pessoas pelas ruas de Belém. Povos indígenas de diversos países sul-americanos participaram do ato, reforçando o pedido pelo respeito aos direitos e pela demarcação de territórios tradicionais.
No mesmo período, o Tribunal Autônomo e Permanente dos Povos contra o Ecogenocídio, instalado simbolicamente por movimentos sociais, divulgou uma sentença que responsabiliza Estados e empresas por violações sistemáticas contra populações indígenas, quilombolas e tradicionais, além de danos à natureza.
A Carta Final da Cúpula dos Povos classificou como insuficientes as medidas apresentadas na COP30 para enfrentar a emergência climática, destacando o papel do modelo econômico atual na intensificação da crise e os efeitos desproporcionais sobre populações periféricas, especialmente diante do racismo ambiental.
Espaços indígenas e novas denúncias
Na AldeiaCOP, estrutura montada para receber cerca de três mil pessoas, ocorreram apresentações culturais, feiras de bioeconomia, debates e rituais de cura ligados à medicina ancestral. Povos indígenas também realizaram uma marcha pelas ruas de Belém, cobrando respostas para o assassinato de Vicente Fernandes Vilhalva Kaiowá, de 36 anos, morto por tiro na cabeça durante ataque armado em Iguatemi, Mato Grosso do Sul.
Ao longo das mobilizações, lideranças como o cacique Raoni Metuktire reforçaram a necessidade de continuidade das lutas. Em mensagem enviada às organizações participantes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a Cúpula dos Povos teve papel decisivo para a realização da COP30.
Imagem: Tânia Rêgo


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